Todo colega meu de formação musical mais completa ou de
gosto mais apurado torce o nariz quando ouve a expressão “funk carioca”. Da
mesma forma que, se fosse nos anos 90, o faria para os grupos de pagode e para
as boy bands americanas. Eu, particularmente, acostumei-me a ter amigos MC’s,
discotecar o estilo em festas para as quais fui contratado, ficar por dentro
dos lançamentos sem querer, graças aos carros com trio elétrico (ou “som pra fora”,
como preferirem), mesmo que o pendrive do som do meu carro só tenha rock, jazz,
MPB, flamenco, lounge, entre outros estilos mais alternativos.
No ano passado, através do Não Salvo, conheci
um tumblr, o Funk:
interpretando, que misturava humor e ironia em falsas análises críticas de
funks em geral. Topei o desafio e fiz uma aqui, por conta própria:
MC Tipocket – Palhacinho
Nos tempos atuais, prazer unilateral já não é exclusividade
do homem: a mulher também conquistou este direito, de tal modo que mesmo uma
significativa parcela de homens acredita ter a obrigação moral de arcar com a
satisfação sexual plena da parceira mesmo durante o período menstrual,
considerado o período de maior sensibilidade e fragilidade tanto afetiva quanto
no plano emocional geral.
Assim, o poeta marginal sugere que o cunilíngua realizado durante a
menstruação, embora pareça asqueroso pelo fato de a mistura de lubrificação
vaginal e sangue ser considerada “suja”, pode ser encarado com leveza e bom
humor. Tal postura traduz-se na figura do palhaço, metonímia da alegria e da
diversão, reforçada pelo diminutivo, que denota carinho e mesmo um sentimento
pueril.
A prática divulgada pelo emérito Tipocket é corroborada pelo psicoterapeuta
Oswaldo Rodrigues Junior. Segundo o doutor, existem algumas pessoas que gostam
e não têm problemas com isso. "Para a maior parte das pessoas, o
sangramento é algo que se torna incompatível com o sexo oral, mas é uma questão
de preferência", diz Rodrigues. (íntegra da entrevista aqui,
imoral libidinoso)

E aí, foi você que me chamou de palhaço, malucão?
Falando sério agora...
Algumas coisas devem ser levadas em consideração na hora de
se ouvir funk:
1 – Não é pra música ter conteúdo. É som apenas pra festejar,
pra curtir. E, se for pra falar algo significativo, tem de ser curto, grosso,
simples e unânime, mas dito de uma maneira diferente, que tenha ritmo e que a
galera abrace e passe adiante. O funkeiro dá voz à juventude da favela, é o
termômetro ideológico da mesma;
2 – Quase nunca os reais motivos de gostar ou não gostar de
funk são revelados, sendo espalhados outros, relativamente falaciosos. Se os
problemas são falar de sexo, drogas, bandidagem, etc., o rock e a black music
no geral sempre fizeram isto; geralmente estão ocultas a discordância das
posturas tomadas com relação a estes assuntos, bem como a incapacidade de lidar
com eles das formas propostas. Pra quem curte, mesmo não sendo ladrão, prostituta, drogado, etc., o ouvinte vê naquilo uma postura que se almeja ou que se admira mesmo sabendo que não tem coragem para reproduzi-la. Se a questão é falta de musicalidade, da mesma
forma que o MC não sabe o que é um Dó-Ré-Mi-Fá (às vezes nem escola de samba no
morro ensina isto), o crítico ou músico tradicional não sabe o que é selecionar
um ritmo ou um sampler, operar um beatpad, fazer um marketing boca-a-boca,
fortalecer um ethos e uma imagem na comunidade... e fica puto da vida porque o
cara faz mais sucesso e ganha mais grana do que o músico que estudou desde a
infância.
3 – Sim, ainda assim vai ter muito funk que “não presta”.
Muita argumentação falaciosa. Muita afirmação de gosto BEM duvidoso, como este funk que selecionei. Mas lembremo-nos que é tudo uma questão de
preferência de comportamento, e que as periferias enfrentam uma crise
estrutural da educação; as necessidades, os modos de se educar, os conteúdos,
os agentes, são questionados o tempo todo, quando
presentes. E aí a “rua” cria mesmo, não tem jeito. Vamos falar o quê do
sucesso da MC Byana, ensinando as meninas a serem putas desde cedo, mesmo que
no mês que vem ninguém mais se lembre dela? O que tem de ser considerado? A
forma e o agente do discurso ou a dinâmica de rotatividade de ideias? A ausência de moral e pudor ou os reflexos dos avanços nas relações entre ciência e sexualidade? Ver só o
funkeiro, a comunidade, a letra da música ou a “indústria” como um todo?
Você derramaria Chandon na calcinha dela? Eu não jogaria nem
um Dollynho...
Em breve postarei aqui uma análise completa do estilo, em
texto ou em vídeo, com entrevistas e o escambal, pra trabalhar melhor o
assunto. Para fechar, segue um trecho de um diálogo com meu amigo Alex
Adavilis, DJ e locutor:
A – Cara, mas pra escrever isso não precisa ser nenhum gênio.
Só tem que ser homem. E hétero!
R – Tá, e o que mais?
A – Ah, só isso meu!
R – Ok, você é homem e hétero. Faz um funk aí agora!
A – Mas assim, do nada? Não tenho que sentar pra escrever e
tal?
R – Ué, você não disse que “não precisa ser gênio”?
A – Tá, faz a batida aí!
R – Tchu, tcha, tcha, tchu tchucudjá... (repete ad libitum)
A - ... (silêncio) É, vou escrever umas coisas lá em casa e
tal...
Moral da estória: a pior complexidade é a que se faz de
simples (vide Alberto Caeiro).
Uma árvore é uma árvore. Uma pedra é uma pedra... e UM PENTE É UM PENTE!
Moral da estória 2: muito do que se espalha nas revistas e sites como crítica musical é pura enrolação. Como este artigo foi, intencionalmente.
Uma árvore é uma árvore. Uma pedra é uma pedra... e UM PENTE É UM PENTE!
Moral da estória 2: muito do que se espalha nas revistas e sites como crítica musical é pura enrolação. Como este artigo foi, intencionalmente.
BIATCH!
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