sexta-feira, 8 de junho de 2012

Dioniso Caeiro no morro - interpretando FUNKS!



Todo colega meu de formação musical mais completa ou de gosto mais apurado torce o nariz quando ouve a expressão “funk carioca”. Da mesma forma que, se fosse nos anos 90, o faria para os grupos de pagode e para as boy bands americanas. Eu, particularmente, acostumei-me a ter amigos MC’s, discotecar o estilo em festas para as quais fui contratado, ficar por dentro dos lançamentos sem querer, graças aos carros com trio elétrico (ou “som pra fora”, como preferirem), mesmo que o pendrive do som do meu carro só tenha rock, jazz, MPB, flamenco, lounge, entre outros estilos mais alternativos.

Mas dá pra “interpretar” um funk? Dá pra dizer que é uma música com “conteúdo”?



No ano passado, através do Não Salvo, conheci um tumblr, o Funk: interpretando, que misturava humor e ironia em falsas análises críticas de funks em geral. Topei o desafio e fiz uma aqui, por conta própria:


MC Tipocket – Palhacinho

Nos tempos atuais, prazer unilateral já não é exclusividade do homem: a mulher também conquistou este direito, de tal modo que mesmo uma significativa parcela de homens acredita ter a obrigação moral de arcar com a satisfação sexual plena da parceira mesmo durante o período menstrual, considerado o período de maior sensibilidade e fragilidade tanto afetiva quanto no plano emocional geral.
Assim, o poeta marginal sugere que o cunilíngua realizado durante a menstruação, embora pareça asqueroso pelo fato de a mistura de lubrificação vaginal e sangue ser considerada “suja”, pode ser encarado com leveza e bom humor. Tal postura traduz-se na figura do palhaço, metonímia da alegria e da diversão, reforçada pelo diminutivo, que denota carinho e mesmo um sentimento pueril.
A prática divulgada pelo emérito Tipocket é corroborada pelo psicoterapeuta Oswaldo Rodrigues Junior. Segundo o doutor, existem algumas pessoas que gostam e não têm problemas com isso. "Para a maior parte das pessoas, o sangramento é algo que se torna incompatível com o sexo oral, mas é uma questão de preferência", diz Rodrigues. (íntegra da entrevista aqui, imoral libidinoso)

E aí, foi você que me chamou de palhaço, malucão?

Falando sério agora...

Algumas coisas devem ser levadas em consideração na hora de se ouvir funk:

1 – Não é pra música ter conteúdo. É som apenas pra festejar, pra curtir. E, se for pra falar algo significativo, tem de ser curto, grosso, simples e unânime, mas dito de uma maneira diferente, que tenha ritmo e que a galera abrace e passe adiante. O funkeiro dá voz à juventude da favela, é o termômetro ideológico da mesma;

2 – Quase nunca os reais motivos de gostar ou não gostar de funk são revelados, sendo espalhados outros, relativamente falaciosos. Se os problemas são falar de sexo, drogas, bandidagem, etc., o rock e a black music no geral sempre fizeram isto; geralmente estão ocultas a discordância das posturas tomadas com relação a estes assuntos, bem como a incapacidade de lidar com eles das formas propostas. Pra quem curte, mesmo não sendo ladrão, prostituta, drogado, etc., o ouvinte vê naquilo uma postura que se almeja ou que se admira mesmo sabendo que não tem coragem para reproduzi-la. Se a questão é falta de musicalidade, da mesma forma que o MC não sabe o que é um Dó-Ré-Mi-Fá (às vezes nem escola de samba no morro ensina isto), o crítico ou músico tradicional não sabe o que é selecionar um ritmo ou um sampler, operar um beatpad, fazer um marketing boca-a-boca, fortalecer um ethos e uma imagem na comunidade... e fica puto da vida porque o cara faz mais sucesso e ganha mais grana do que o músico que estudou desde a infância.

3 – Sim, ainda assim vai ter muito funk que “não presta”. Muita argumentação falaciosa. Muita afirmação de gosto BEM duvidoso, como este funk que selecionei. Mas lembremo-nos que é tudo uma questão de preferência de comportamento, e que as periferias enfrentam uma crise estrutural da educação; as necessidades, os modos de se educar, os conteúdos, os agentes, são questionados o tempo todo, quando presentes. E aí a “rua” cria mesmo, não tem jeito. Vamos falar o quê do sucesso da MC Byana, ensinando as meninas a serem putas desde cedo, mesmo que no mês que vem ninguém mais se lembre dela? O que tem de ser considerado? A forma e o agente do discurso ou a dinâmica de rotatividade de ideias? A ausência de moral e pudor ou os reflexos dos avanços nas relações entre ciência e sexualidade? Ver só o funkeiro, a comunidade, a letra da música ou a “indústria” como um todo?

Você derramaria Chandon na calcinha dela? Eu não jogaria nem um Dollynho...

Em breve postarei aqui uma análise completa do estilo, em texto ou em vídeo, com entrevistas e o escambal, pra trabalhar melhor o assunto. Para fechar, segue um trecho de um diálogo com meu amigo Alex Adavilis, DJ e locutor:

A – Cara, mas pra escrever isso não precisa ser nenhum gênio. Só tem que ser homem. E hétero!
R – Tá, e o que mais?
A – Ah, só isso meu!
R – Ok, você é homem e hétero. Faz um funk aí agora!
A – Mas assim, do nada? Não tenho que sentar pra escrever e tal?
R – Ué, você não disse que “não precisa ser gênio”?
A – Tá, faz a batida aí!
R – Tchu, tcha, tcha, tchu tchucudjá... (repete ad libitum)
A - ... (silêncio) É, vou escrever umas coisas lá em casa e tal...

Moral da estória: a pior complexidade é a que se faz de simples (vide Alberto Caeiro).
Uma árvore é uma árvore. Uma pedra é uma pedra... e UM PENTE É UM PENTE!
Moral da estória 2: muito do que se espalha nas revistas e sites como crítica musical é pura enrolação. Como este artigo foi, intencionalmente.

BIATCH!

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