quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

"É SÓ NÃO GRITAR" - Os desdobramentos da gravação de um curta sobre pedofilia

Salve geral pros seguidores do site, belezura?

Pois é, faz um tempo que não ando postando por aqui. Aliás, desde que troquei meu domínio para ".com.br" a entrega saiu pior do que a encomenda: esperava ter maior exposição aqui no HUEsil, porém vejo que a maioria dos interessados no meu conteúdo parece vir de fora mesmo. Sei lá se eles usam tradutores automáticos ou manjam mesmo português, mas eu estudo voltar a trabalhar com o domínio apenas ".com" na próxima renovação. Veremos.

Por ora, muita coisa mudou em minha vida: voltei a morar em SP, não só para ter uma banda larga que preste, como também para cuidar de meu pai e para ficar mais próximo do trabalho e do meu convívio social como um todo. Mas, é claro, meu convívio social também mudou. Convívio anti-social, diria atualmente, já que ando de saco cheio de tudo mesmo: amigos, amantes, baladas... bem estilo o Zillean do foda-se, manja?

Então pra cortar o tédio ando fazendo algumas coisas novas. Um MBA em Gestão Pública, pra ser mais preciso. Porém, o lado corporativo não dá porradas em mim sem que o lado artístico revide, e eu aceitei o convite de uma amiga das artes, a produtora Karine Edmara Lopes, da RECOF produções, para a gravação de um curta sobre pedofilia, no qual além de interpretar o vilão, o pai de família e cidadão de bem Afonso, arquetípico do hipócrita pseudomoralista defensor do Bolsonaro e o escambau que você puder imaginar, também tive a honra de batizar o curta com o título "É só não gritar", frase chavão dos aliciadores intimamente ligada ao silêncio das vítimas.



A princípio, não levei tão a sério o trabalho. Voluntário, aliás, já que a produtora é oriunda de um trabalho de faculdade. E bastaram 3 dias de gravações. Tudo "na brodagem". Mas eu esperava, sim, desdobramentos positivos: oportunidades e candidaturas para trabalhos midiáticos remunerados, como comerciais de TV, por exemplo.

Tolo, eu. Pensando apenas no meu umbigo. Os desdobramentos foram positivos, mas de uma maneira que eu não esperava. Não esperava porque achava que o tema já estava batido, que tudo o que tinha de ser falado já tinha sido falado. Achei que o filme "Spotlight" tinha zerado o tópico. Lodo engano.

Divulguei o filme no Facebook, no e-mail corporativo, nos grupos de Whatsapp. Só havia faltado aqui, no site. Mas aqui é um lugar especial, e o delay serviu pra que fosse inserido este pós-atuação.

Algumas pessoas elogiaram minha atuação, nem sabiam que eu já havia feito trabalhos com artes antes... porém, as mulheres jovens começaram a reagir, me mandando depoimentos de experiências pessoais. E eu vi que o problema é mais comum, entabuzado e traumático do que eu imaginava.

Vou colocar os textos ipsis litteris, ou seja, tal como estão escritos, porém, os nomes foram trocados para proteção das depoentes:

"Eu fiquei ate chocada com a realidade do vídeo , na verdade estou sem palavras, pois isso também aconteceu comigo quando eu tinha 8 anos durou bastante tempo dos 8 anos aos 12 anos tive que aguentar calada, pois ele me ameaçava ... por um amigo da família.. ele se mudou quando eu tinha 14 anos , foi para o nordeste , é voltou em janeiro...tentou me assediar  novamente, só que eu, só tive coragem de falar para os meus pais quando ele tentou novamente ,  não conseguiram prender ele , pois fugiu...."Nathália, 17 anos.

"Minha amiga me mostrou o filme e falou 'não chora', mais eu acabei chorando... eu tambem fui molestada pelol meu padrasto, foi até os 11 anos, tenho crises até hj quando lembro. Ele brincava com laminas e facas na minha frente e eu não sabia que eu peguei este gosto dele também, depois da terapia entendi que era uma lembrança minha que eu tentava apagar... demorei pra enfrentar a realidade, quando tomei consciência e decidi denuncia-lo ele já não estava com minha mãe, ninguém sabia dele"Joana, 15 anos.

"Era um amigo da família, molestava eu, minha prima e a nossa amiga, ameaçava matar uma se outra falasse. Infelismente minha amiga não aguentou e se suicidou. Eu quis matar ele..."Cátia, 16 anos.

"Eu fui saber nesta semana, através de uma conversa com minha irmã sobre seu vídeo, que ela era assediada pelo pedreiro que fazia as obras da nossa casa quando criança. Me protegeram de saber disso na época e expulsaram o pedreiro. Depois reclamam que feminista só sabe fazer textão na internet. Não vêem que o potencial estuprador/assediador pode estar do seu lado enquanto você critica quem protege as vítimas. Aliás, em muitas vezes, pode ser o próprio criminoso quem critica o feminismo, claro, pois ele se beneficia do silêncio das vítimas e se vê ameaçado por quem ajuda a quebrá-lo"Clara, 31 anos.

Rapaz, isto me doeu na alma.

Sabem por quê? Não somente questão de empatia. Eu realmente estive neste lugar. Fui assediado pelo meu professor de música aos 18 anos. Uma das pessoas por quem eu mais tinha admiração na época de repente se tornou alguém que queria meu corpo, queria me arrastar pra um daqueles motéis da Raposo. Aquilo virou minha cabeça, me perturbou pra cacete, gerou uma derrocada psicológica que resultou em 1 ano e meio de depressão aguda, fobia social, inabilidade de conversar com outras pessoas adequadamente. Claro, acabei apagando a lembrança e substituindo por outros méritos na época, essa coisa toda da seletividade da memória, sabe? Foram necessários alguns flashbacks e terapias para tomar consciência de que aquilo que tinha acontecido comigo era grave e que eu não poderia ficar calado.

Ah, mas eu já tinha 18 anos, então conta como assédio, não como pedofilia, certo? Bom, fui saber posteriormente que estudantes MUITO MAIS jovens do que eu haviam passado pelo mesmo desconforto e que foi por isso mesmo que este professor foi "convidado a se retirar" do colégio no qual lecionava. Porque ainda não foi denunciado, preso? Talvez por pena da velhice dele. Aqui no Brasil é assim: após a velhice, pode-se cometer qualquer tipo de crime ou contravenção. Por preguiça ou dó, a pessoa não é denunciada e quando o é, não vai presa (vide nossos deputados e senadores). Como se estar velho em si já fosse uma pena dura.

Mas posso voltar no tempo, até quando eu tinha uns 11 anos, e lembrar de um certo ajudante de banca de jornal que queria me pagar uns R$ 10 para que ele me chupasse. Ou ir até os 15 anos, quando tentaram me induzir a participar de um estupro coletivo de uma menina bêbada, o qual foi impedido por moradores do local onde estávamos. Ou de tantas outras situações de menor ou maior importância ligadas a mim ou a outras pessoas que passaram pela minha vida.

E isto porque sou homem. E as estórias que as mulheres colecionam?

Mas o foco é pedofilia, né? Bom, admito que me deu um arrepio aqui antes de buscar o termo na Wikipedia pra não falar besteira. Claro, a Wikipedia não é a dona da verdade, mas antes um espaço de debate científico coletivo, então deve ser lida com bastante cuidado, checando fontes e o escambau. Só que o artigo não é somente megaextenso, como também acaba levando a um monte de outros links. As guias "Ver também" e "Lista de parafilias" são de dar um nó na cabeça, mostrando como tem gente perturbada sexualmente no mundo!

Mas para não desviarmos do foco, aqui vão algumas das constatações mais interessantes que fiz na leitura do artigo:


1 - A relação sexual entre adultos e adolescentes é regulada pelas leis de cada país referentes à idade de consentimento. Alguns países permitem o relacionamento a partir de uma idade mínima (12 anos em Angola, Filipinas e México, 13 na Espanha e Japão, 14 no Brasil, Portugal, Itália, Alemanha, Áustria e China, 15 na França, Suécia, Dinamarca e Grécia, 16 em Noruega, Reino Unido e Holanda);


(Este é um dado importante que mostra claramente os limites legais das relações entre adolescentes e adultos. Claro, o limite legal é diferente do limite do bom senso, já que o primeiro não deveria ser usado para justificativa de defesa contra eventuais acusações de crimes)


2 - A causa ou causas da pedofilia são desconhecidas.[32] Pensava-se que o histórico de abuso sexual na infância era um forte fator de risco, mas pesquisas recentes não encontraram relação causal, uma vez que a grande maioria das crianças que sofrem abusos não se tornam infratores quando adultos, nem tampouco a maioria dos infratores adultos relatam terem sofrido abuso sexual. O "US Government Accountability Office" concluiu que "a existência de um ciclo de abuso sexual não foi estabelecida." Antes de 1996, havia uma crença generalizada na teoria do "ciclo de violência", porque a maioria das pesquisas feitas eram retrospectivas e baseadas em um grupo pré-definido (Cross-sectional study) — os infratores eram questionados se teriam sofrido abusos no passado. Pesquisas mais recentes, de caráter prospectivo longitudinal, estudando crianças com casos documentados de abuso sexual ao longo de certo período a fim de determinar que percentagem delas se tornaria infratora, tem demonstrado que a teoria do ciclo de violência não constitui uma explicação satisfatória para o comportamento pedófilo


[Esta declaração mostra que a abordagem crítica do fenômeno, na verdade, é bem recente. Creio que isto aconteça por dois motivos: o primeiro é o tabu moral (é algo tão escandaloso que acaba tendo de ser trabalhado na surdina ou até mesmo aceito por questões de machismo) e o segundo é o tratamento como fenômeno cultural (Sempre lembro daqueles artigos que o Dr. Eugênio Chipkevitch escrevia na Veja defendendo a prática da pedofilia na Grécia Antiga; a mesma Veja que condenava posteriormente o casamento de quarentões com crianças no Irã e no Afeganistão, prática comum dos países de forte presença islâmica)]


3 - Recentes estudos, empregando exploração por ressonância magnética, foram feitos na Universidade de Yale e mostraram diferenças significativas na atividade cerebral dos pedófilos. O jornal Biological Psychiatry declarou que, pela primeira vez, foram encontradas provas concretas de diferenças na estrutura de pensamento dos pedófilos. Um psicólogo forense declarou que essas descobertas podem tornar possível o tratamento farmacológico da pedofilia. Continuando nessa linha de pesquisas, o Centro de Vício e Saúde Mental de Toronto, em estudo publicado no Journal of Psychiatry Research, demonstrou que a pedofilia pode ser causada por ligações imperfeitas no cérebro dos pedófilos. Os estudos indicaram que os pedófilos têm significativamente menos matéria branca, que é a responsável por unir as diversas partes do cérebro entre si.


(Esta parte me chamou a atenção porque parece defender uma linha de interpretação da pedofilia como condição mais biológica do que psicológica. Por um lado, não creio que a pedofilia não seja mais um dos comportamentos antiéticos que estão ligados à crueldade humana geral. Por outro, também me vêm à cabeça a famosa cena do filme "Ninfomaníaca Parte II" em que a protagonista Joe, após todo o teu repertório de torturas psicológicas falhar, acaba fazendo com que o devedor ao qual ela está punindo se perceba pedófilo, argumentando o quão horrível é se descobrir portador de uma forma de desejo e prazer criminosa: "O pedófilo, que consegue lidar com a vergonha do desejo enquanto nunca agiu, merece uma medalha de honra").

Nessa hora, eu olhei para o meu passado e pensei: "Porra, eu poderia ter me tornado um pedófilo ou algo do tipo, considerando minha experiência de vida". Sim, porque não bastou estudar a trajetória da sexualidade neste tópico. Eu decidi fazer uma jornada dentro da minha própria sexualidade.

Quando que eu fui saber o que era o sexo? Bom, posso dizer com segurança que foi a partir dos 7, 8 anos. Eu aprendi a ler precocemente, com 3 anos. com 6 eu já pegava livros de inglês, história e biologia dos meus tios. Com 8 anos, eu encontrei livros de ciências da saúde que falavam das DSTs. E aquilo me fez me borrar de medo, fazendo eu ver o sexo como uma coisa suja e perigosa. Ao mesmo tempo, no futebol de rua, nos videogames, os outros moleques já soltavam diversos palavrões, copiando os adultos com quem conviviam, tentando se mostrar parte daquele mundo deles. Era um tal de "enfia essa ficha no cú", "apita esta falta com meu pau na tua boca", etc. Nem fazia ideia de porque estas coisas eram faladas ou se eram boas. Mas era o código, tinha de seguir. E quem não fez isso na vida?


Porém, eu já reconhecia beleza no sexo oposto. E fantasiava com coleguinhas de sala, às vezes. mesmo que não conseguisse fazer algo mais do que dividir uma merenda ou fazermos a lição de casa juntos, imaginava elas de maiôs de praia, montadas em balões e bolas estilo pilates. Tenho tara por estes três elementos até hoje. Talvez tenha a ver com o "Xou da Xuxa" e  outras animadoras infantis sexies que faziam a alegria dos baixinhos e dos altinhos, já que estes elementos eram recorrentes entre elas. Vocês sabem, no final dos anos 80/início dos 90, estava começando uma abordagem mais liberal da nudez, considerando-se a saída da censura na mídia. Tinha a "Garota do Fantástico", a liberação temporária do topless, a nudez era vista como uma coisa mais natural, até heróica, não tinha esta coisa de mamilos polêmicos, etc. Mas é claro, cada época tem uma forma diferente de explorar ou retratar positivamente ou negativamente a nudez e o sexo. E, como sabemos, as crianças são a primeira preocupação da brigada moralista. Em partes, estão certos. Retomamos isto mais tarde.





Porém, eu não entendia certas transformações que ocorriam no meu corpo. Uma pomada para fimose começou a fazer efeito. Pensei que meu pênis ia cair. E neste dia eu aprendi a rezar. E comecei a ler a Bíblia. Porém, como toda criança que faz merda quando está sozinha, comecei do final, não só porque a palavra apocalipse me soou impactante, como também ela parecia retratar uma série de acontecimentos fantásticos que me lembravam filmes de magia ou ficção científica. Aí, você tem 8 anos e dá de cara com frases como "E depois de 2000 anos, Satanás será solto de sua prisão" e "Entrarão no céu os homens que não se envolverão com mulheres, porque são virgens". Os jornais retratavam coisas como o HIV, os desastres nucleares, os terremotos na Falha de San Andreas e as fomes na África como "sinais do fim dos tempos". MUITA gente acreditava que o mundo realmente ia acabar no ano 2000. Músicas como "Eva", da Rádio Taxi, e, mais adiante, "O segundo sol", parceria de Nando Reis e Cássia Eller (que abordava o alinhamento dos planetas em 99) viviam jogando isto na nossa cara. Então, óbvio: eu tinha que me manter virgem até o ano 2000 para ser salvo do Fim do Mundo por Deus e o escambau.


Já dá pra imaginar a pira que isto gerou na minha cabeça, né? Com 11 anos, descobri a pornografia, a masturbação e o orgasmo. E isto gerava uma divisão barroca no meu cérebro, de forma que eu geralmente orava pedindo perdão logo após o pecado cometido. E isto fez com que eu naturalmente me afastasse de tentar descobrir mais sobre o jogo da paquera, da sedução, do flerte, do ingênuo ficar, prejuízos sentidos até hoje. Fui dar meu primeiro beijo aos 14. Acabei tendo minha primeira relação aos 16. Parece cedo? Comparado à maioria dos meus colegas, eu era o mais atrasado, praticamente o personagem bobão das comédias adolescentes estilo American Pie. Como eu já estava fodido mesmo, passei a virada de 99 para 2000 dormindo sob uma chuva torrencial, que derrubou a energia no meu bairro e não me deixava ficar a par de eventuais consequências do bug do milênio que poderiam ir de panes nos computadores dos sistemas bancários até o disparo de mísseis nucleares. Quando acordei, o mundo não havia acabado, como eu pensei. Mesmo assim, me inclinei ainda mais ao Cristianismo (especialmente após superar um caso de acne severa que julguei que ia me deixar feioso para sempre), o que só comecei a contestar a partir de 2004, quando eu namorava uma moça cuja família era da Congregação Cristã e seus membros falavam lorotas como "o mundo pode acabar a qualquer hora, pois ninguém sabe o tempo de Deus, que é diferente do tempo do homem". Só 2 anos depois, após ingressar na USP, foi que eu desenvolvi o senso crítico que me tornou o ateu de hoje.


Mas porque eu fiz este momento confessional? Só pra me expor e ser julgado virtualmente? Não! Mas pra mostrar um sol que tanto os moralistas das alas religiosas quanto os das militâncias políticas vanguardistas parecem querer tapar com a peneira: a exposição e a descoberta precoces da sexualidade ocorrem antes do corpo e da mente estarem preparados pra tal. Mas, justamente por isso, a maioria das pessoas não quer lembrar; antes, apaga os momentos em que isto aconteceu, num esforço de seletividade da memória, não querer aceitar que aquelas coisas de fato aconteceram. E isto é justamente o que o pedófilo lembra e reconhece, tanto na constituição da tua mente e preferências quanto para a hora da escolha das suas vítimas.


Só pra citar um exemplo, na virada de 2016 para 2017 contei 12 vezes em que ouvi o funk "Deu onda" nas ruas do Jd. Angélica. Devia ter um monte de criança na rua cantando "meu pau te ama". Mas antes de bancar o pseudomoralista, lembrei que cantava "Meu pipi no seu popó" com 5 anos em 1988. Claro, o assunto "sexo" não é mais o tabu da era dos nossos avós. Mas poucos se lembram que as crianças tendem a imitar, baseando-se na excitação e nas expressões faciais e corporais, tudo o que eles veem os adultos fazer e falar, numa tentativa de se verem fazendo parte de um grupo maior e mais privilegiado do que o deles, já que é natural do ser humano, desde a infância, querer se sobressair perante os seus pares e, assim, exercer uma liderança e dela extrair seus benefícios.




Mas o que acontece com a criança ou pré-adolescente que é pego pelos pais manifestando a repetição deste elemento sexual, qualquer que seja? Ela é imediatamente reprimida, até castigada, boa parte das vezes. Poucos são os pais que chegam e conversam coisas como "não precisa imitar tudo o que os outros adultos fazem, já que você ainda não está pronto/a pra isto, deixa eu te fazer entender como estas coisas funcionam, etc". E a criança vai guardando ressentimento disto, até manifestar de maneira mais irresponsável na adolescência ou, em alguns casos, carregando os traumas, irrealizações e insatisfações para a vida adulta.

A meu ver, considerando a série de reportagens que vi sobre o assunto durante minha vida, citando alguns exemplos durante esta postagem, este fator permeia a vida do pedófilo em dois polos: por um lado, ele carrega consigo esta frustração de não ter realizado estes desejos reprimidos da infância DENTRO da infância, ainda que hoje possa entender que naquela época isto seria inconcebível e busque lenitivos para a culpa do desejo nas religiões ou em outros vícios, por exemplo. Por outro lado, ele sabe da ingenuidade e da imaturidade das crianças que, de fato, são expostas a elementos sexuais o tempo todo e, vez por outra, mimetiza os comportamentos adultos ligados à sexualidade, e isto as torna alvo fácil de sua persuasão. O que foi exatamente o caso do personagem que interpretei.


Então, claro, todo pedófilo precisa ser desmascarado, julgado e punido. Considerando-se os traumas gerados nas vítimas, para os quais o criminoso não está nem aí, é um crime inadmissível. Mas, considerando-se a possibilidade de a pedofilia ser tratada como doença, em paralelo ao tratamento como comportamento anti-ético e criminoso, e considerando a prioridade para abordagens prevencionistas sobre as punitivas (o que não exclui estas últimas), faço a pergunta: quais as melhores maneiras de se prevenir a pedofilia?


Não sou nenhum especialista, mas minha experiência de vida me dá um norte: precisa existir, por parte dos adultos, uma abordagem madura da sexualidade nas suas próprias vidas: nem tabu, nem banalização. Antes, o equilíbrio do reconhecimento de algo que faz parte da vida de qualquer ser humano e, atualmente, não tem mais as âncoras do pecado e da moral, para que então seja corretamente ensinado aos mais jovens dentro das famílias e das escolas. Em resumo: educação emocional. É o que protege as crianças de novos ataques. É o que previne o surgimento de adultos frustrados com potencial para este tipo de crime. É o que cada um de nós pode fazer para evitar que o crime ocorra antes de ele ser combatido, embora, claro, ainda haja muita gente FDP no mundo que não está nem aí pro que falamos e quer mais é continuar se dando bem em cima dos mais frágeis, mas a estes a vida reserva seus devidos lugares...



Em resumo: lembrem que já foram crianças. Lembrem DE TUDO pelo que vocês passaram quando eram crianças, por mais que doa. Para que haja uma educação emocional e sexual efetiva, ela não pode ser fruto de uma memória seletiva. E, vão por mim, o mundo hoje está bem mais complicado do que os "loucos" anos 80/90.

Se já era este apocalipse de informações antes... imagine agora! Mas a gente sobreviveu, né?



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...