Salve galera! Salve-se quem puder dos abusos das grandes corporações!
Conforme prometido, vou iniciar aqui a série que registra por escrito a cantilena que todos os meus amigos e conhecidos têm ouvido sempre que perguntam boquiabertos: "MAS POR QUE VOCÊ NÃO TEM INTERNET EM CASA"???
E, sim, isto servirá de documentação para uma eventual denúncia ou processo judicial, já que ficar só "na palavra" não ajuda em nada e acaba servindo como atestado de incompetência implícita de quem não consegue "dar um jeito nas coisas".
Preservarei aqui todas as minhas aventuras para se conseguir algo tão vital nos dias atuais quanto um fornecimento de água potável ou energia elétrica em casa, em nome do direito de comunicação, ainda mais para quem exerce o ofício de blogueiro como eu: UMA SIMPLES CONEXÃO DE BANDA LARGA CABEADA!
INTRODUÇÃO:
Para quem não sabe, nasci em 1983 na Vila dos Remédios, na Capital, e lá cresci até os 15 anos, quando minha mãe, após um tempo de separação do meu pai, decidiu comprar um terreno em Carapicuíba (ainda na Grande São Paulo, apesar do nome complicado que passa a impressão de interior, e a apenas 20 km ou 2 ônibus de distância da capital) e, construída a casa, aceitei morar com eles, agora reconciliados, considerando que em minha vila eu sofria de um estigma muito desconfortável de "nerd loucão" (no nosso tempo eu havia sido "pego pra Cristo", termo anterior ao que chamam hoje de bullying) agravado pela fama de minha família no bairro (avó esquizofrênica, tio limítrofe, pai alcoólatra, etc.)
Minha casa no recente mutirão "7 de setembro", no final da Estrada do Vitorello, em setembro de 1998, era praticamente a única da quadra toda, estando concluídas apenas as da referida estrada que ficava paralelamente acima da minha rua. Vacas, cavalos e bodes rodeavam minha janela toda manhã. O bairro era uma promessa de condomínio particular construído sob a forma de mutirão: a grana paga pelos associados bancaria a compra do terreno de cada um, a regularização do loteamento e os materiais para construção, sendo que os associados também ajudariam, inclusive, na construção das suas próprias casas e de outros associados. O modelo não deu certo e a Construtora PRD decretou falência. Pouco tempo depois, soube-se que a falência havia sido forjada e os sócios haviam fugido com a grana do povo todo, deixando inclusive de proceder com a regularização do loteamento junto à Prefeitura, para a qual o local ainda era uma fazenda. E cada um que se virasse pra comprovar a compra de seu lote e construir sua casa.
Toda esta volta foi dada pra ilustrar como em meu bairro sempre foi tão difícil de se conseguir tudo: a água encanada veio 2 meses depois da efetiva moradia e a energia, um mês e meio. Antes, era tudo gato. A iluminação pública veio 3 anos depois graças a um PIPP (plano de iluminação pública participativa - a própria população entra com aprox. 40% dos gastos através de uma arrecadação tributária paralela). Pelo asfalto, tivemos de esperar absurdos 11 anos, com um entra-e-sai de prefeitos e vereadores que mantinham currais eleitorais na região com a promessa de um asfalto via plano participativo que nunca vinha. Sempre me dá um ódio lembrar que a gestão petista vigente na cidade desde 2009 que me demitiu do cargo público de coordenador de programas educacionais para a juventude (e que praticamente destruiu meus sonhos e minha carreira) foi a mesma que bancou o asfalto diretamente do FUMEFI no mesmo ano. Ou seja, grana do Lula injetada diretamente no meu bairro considerado invisível até para o Google Maps na época.
Porém, desde outubro de 1998 tínhamos telefone fixo da TELESP (atual Vivo). E através dele conseguíamos nossas conexões com a internet discada desde 2002. Como o Speedy estava disponível somente no centro da cidade, nos viramos com esta conexão até 2007, período em que adquiri meu 1º modem 3G. Naquele tempo, não era tão inconveniente a questão da franquia de dados: as fotos e videos eram mais leves e, se a cota mensal era atingida, havia apenas a redução da velocidade. Ainda dava pra baixar uma música ou apostila da internet. Não era como hoje, em que uma foto HD ou Vine estoura a sua cota diária e corta a sua conexão.
Além disso, a TIM disponibilizava, entre 2010 e 2012, um pacote especial que fazia franquia mensal por horas e não por dados, o que facilitava muito mais o controle de uso. 60 horas mensais garantiam até 2h por dia de internet boa e de qualidade. Porém, a empresa criou tantos pacotes "surreais" de voz e dados que, ao passo em que se tornou a empresa com mais linhas vendidas na época, deixou de investir em expansão de infraestrutura que acompanhasse o crescimento de sua clientela. Resultado: sobrecarga da rede e consequentes quedas de sinal e conexão recorrentes. Imagine quando você conhece uma balada legal, com uma lotação estável, que você elogia para 2 ou 3 pessoas e, quando vai ver, em um mês a balada vira modinha, com um monte de gente nada a ver colando e tumultuando tudo, e os donos do local simplesmente não investem em expansão ou transferência para um local maior, o que faz com que você perca o gosto pela cena e caia fora. Foi mais ou menos a mesma coisa. E, de fato, em 2012 a TIM encerrou o plano 3G com franquia por horas.
Mas em 2012/2013 já era comum o 3G no celular. e eu também tive o privilégio de ir trabalhar em um local com uma rede rápida. Porém, estes dois meios ainda impedem a realização de várias atividades: a net do trabalho possui filtros e censores, impedindo o download de músicas e vídeos e o acesso às redes sociais, que podem ser utilizadas pelo menos no celular, mas de maneira menos eficiente, o que acaba prejudicando a produtividade no trabalho.
Ou seja: apesar de todos os pesares, eu AINDA PRECISO de internet cabeada em casa. Esta luta acontece ao passo em que minha irmã, que hoje vive na casa em que cresci até 98, conta com uma conexão de 25 mega que pode ser fornecida por até 3 operadoras diferentes. E eu mesmo poderia voltar a morar na região da capital por aluguel na minha condição atual. Mas outras conveniências hoje me fazem permanecer em Carapicuíba, ainda que hoje tenha 0% de participação e identificação social com o local (simplificando: só volto pra casa pra comer e dormir e o resto da cidade que se foda porque odeio quase todo mundo mesmo).
E esta escolha de permanecer é que me norteia na luta descrita nesta série de postagens, que ilustrará não somente o processo em si, mas aspectos importantes sobre periferia, malandragem, jeitinho brasileiro e formação de "esquemas" em geral. Fiquem ligados, pois muitos bytes ainda vão rolar!
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