Estamos
precisando nos enganar um pouco
Descontar no
sexo a escolha da falta de Deus
Abandonar
nossas imperfeições no escuro
Andar na
rua despidos de pseudomoralismos
Estamos
precisando de mentiras combinadas
E o meu
nariz de Pinóquio é mais embaixo
Trancar os
ideais de sonhos no inconsciente
Sem deixar
que isto abale a base da amizade
Estamos
simulando felicidade desencanada
Que a
liberdade dói quando não há quem valha juntar
E fingindo
que o presente é sempre bem melhor
Que os
tempos dos corações batendo até rachar
Estamos
precisando filtrar nossos passados
Tentando
evitar preconceitos e maus-olhados
Colar com
nossos gozos os cacos de nossas almas
Rolar as
más lembranças em enormes baseados
Estamos
precisando dar um foda-se às famílias
Sem que
signifique desamor ou ingratidão
Pra nos
aliviarmos da sociedade opressora
Ditando cânones
com o ruído de uma impressora
Mas, sobre
isto, não diga nada
Minha amizade
colorida e ponderada
É disso que
estamos precisando?
Mas até
quando?
Até quando?
Até que o
amor? Até o enjoo?
O que chegar
primeiro alça voo?
Não, não
ponha os pés pelas mãos
Não se
pendure no vão em vão
Que assim
tá bom, embora amargo
Como o café
necessário pra começar o trabalho
O principal
de tudo
É que a
gente sempre esteve se gostando
E juntos ou
distantes
Ajo pra que assim vá continuando
E num mundo
Com tanta
gente fingindo amor e destilando ódio
O ato de
gostar em si
Deve ser
mesmo o que estamos precisando